[ESPECIAL] Capitães de Areia - Jorge Amado

Título: Capitães de Areia
Autor: Jorge Amado
Editora: Galera Record
Páginas: 256
Sinopse: Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza, dramaticidade e lirismo.
Sinopse retirada do Skoob

Jorge Amado é outro autor, que assim como Graciliano Ramos, fez parte da segunda geração do modernismo brasileiro. Nascido na Bahia, o romancista é bastante conhecido por suas obras que foram marcadas, principalmente, pelo forte regionalismo discutido em seus textos. Na verdade, o que diferencia um do outro é a forma com que eles expõem essa característica. O primeiro de forma mais lúdica, ou seja, fugindo da realidade e o outro mais invasivo e mais realista. 

Dono de um dos livros que mais denunciam a vida dos moradores de rua, Jorge Amado, ao escrever Capitães da Areia em 1937, faz uma crítica social bem aberta ao modo como as pessoas veem e tratam tais personagens. A história do livro tem como plano de fundo as ruas de Salvador, principalmente na chamada “cidade alta”, onde ficam os mais poderosos. É lá que ficam os Capitães da Areia, um grupo de crianças que fazem pequenos furtos para sobreviver, liderados pelo articulador Pedro Bala. A motivação deles é, basicamente, tirar tudo o que a nata da sociedade de Salvador tem, mas que não precisa. Dessa forma, eles vão vivendo e tentando não passar fome no Trapiche, local onde vivem.

“Sua vida era uma vida desgraçada de menino abandonado e por isso tinha que ser uma vida de pecado, de furtos quase diários, de mentiras nas portas das casas ricas. Por isso na beleza do dia Pirulito mira o céu com os olhos crescidos de medo e pede perdão a Deus tão bom (mas não tão justo também...) pelos seus pecados e os dos Capitães da Areia. Mesmo porque eles não tinham culpa. A culpa era da vida.” (Jorge Amado, 1937, página 115.)

Jorge Amado, ao escrever o romance, o dividiu em três partes, no qual desenvolveu uma ordem cronológica para seguir com a narrativa. Antes de tudo, é preciso notar que o livro é, na verdade, uma denúncia. Ao publicá-lo, o autor, sofreu perseguição e teve vários de seus exemplares queimados, pois para as autoridades aquilo era inconcebível. 

Por mais que tenha sido escrito no começo do século, a trama de Jorge Amado não é muito diferente do Brasil atual. Mesmo narrando de forma imparcial, ou seja, não impondo uma opinião ou assumindo uma posição em relação à vida dos personagens, não tem como não notar que as palavras nada mais são do que as impressões do próprio autor. O regionalismo é marcante e, por isso, várias expressões rotineiras do povo soteropolitano são usadas.

4 comentários:

  1. Oi querido!
    Adorei sua resenha, parabéns!
    Estou para ler esse livro há séculos, e ainda não fiz isso.
    Acho que, mesmo quando a ideia dos autores é a de ser imparcial sobre um assunto, é possível perceber suas impressões implícitas em algum momento da história!
    Beijão!

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  2. Oi (;
    Parabéns pela resenha!
    Esse livro já esta marcado no meu skoob faz séculos, mas até agora não pude ler ele. Tenho outro livro de JA na minha casa, mas fico sempre colocando algum livro na frente ._. Espero em breve poder lê-lo.

    Abraços.
    Entre Livros e Livros.
    musicaselivros.blogspot.com.br

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  3. Igor, queria que você tivesse falado mais sobre esse livro em especial.
    Já o li duas vezes e ano passado tive o prazer de assistir ao filme e me deleitei com a produção, simples mas fiel.

    Capitães da areia é um livro muito real, Jorge Amado foi dormir com os meninos de rua para poder escrevê-lo. Os personagens são cativantes e extremamente delineados, e mesmo com todo o seu comportamento errado é impossível não torcer por eles e não sentir sua dor.

    Embora você diga em sua resenha que a linguagem é soteropolitana, eu, como boa pernambucana, me senti em casa durante toda a leitura. E os problemas são tão atuais que se não fosse a aparição de Lampião no contexto da história, não seria perceptível que se passa nos anos 20.

    Tenho divergências com você sobre Jorge Amado ter sido imparcial. O livro é narrado em terceira pessoa, mas a partir do momento que um autor decide fazer uma denúncia tão grande quanto escrever esse livro, acredito que ele já está mostrando sua opinião e posição.

    Vários livros foram queimados por terem espalharem o credo vermelho e é evidente que, sim, Jorge Amado tem ideias comunistas. Que só passam a ficar menos explícitas nos romances da sua segunda fase de escrita, a mais voluptuosa.

    www.amorporclassico.com

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  4. Adoro Jorge Amado. Os livros me proporcionam uma leitura deliciosa e altamente crítica. É, realmente, apesar do comportamento dos capitães da areia, é impossível não se apegar a eles, a todos eles, a cada um com sua história sofrida e ás justificativas para tomar certas atitudes. Apesar de antigo, o tema é um fato consumado nas sociedades atuais, tão segregatistas e injustas.

    ótima resenha!
    Daniela Silva.

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